Tenho seguido com muito interesse os resumos diários que aqui dão dos Paralímpicos e, na minha opinião, estes jogos é que deviam ser o centro das atenções, não os Olímpicos.
Por alguma razão, valorizamos muito mais os jogos em que os atletas – com todo, todíssimo o valor que têm – têm todas as partes do corpo, vivem profissionalmente do desporto, com mais ou menos apoios. Os atletas são estrelas porque acumulam medalhas, músculos, recordes. O sonho do amadorismo? Esse já foi.
Eu não sou excepção: também gosto muito de ver as provas olímpicas e comento-as, qual treinador de bancada. Mas cansa-me muito todo o burburinho mediático à volta da missão, dos atletas-estrela, dos atletas que tiveram um mau dia e que, de repente, são péssimos e não defenderam as cores nacionais. Enfim, sobretudo estou cansada da telenovela gerada à volta do desporto, durante 15 dias, para depois se perder à sombra do futebol durante quatro anos.
Com os Paralímpicos, as coisas são muito diferentes. Será porque as pessoas são deficientes, lhes falta uma perna ou um braço, são invisuais ou sofreram um acidente ou… simplesmente têm um aspecto diferente, como que incompleto. Resumindo, estes jogos não têm a metade da exposição mediática que, na minha opinião, mereciam.
Digo isto porque de cada vez que vejo como é que o ser humano se adapta às dificuldades (ver provas de salto em altura com atletas amputados, por exemplo), se supera a si e a todas as limitações que nos auto-impomos, aí eu acho que aquelas é que são as verdadeiras estrelas.
O espírito humano não tem limites, e creio que isso é muito mais visível nos Paralímpicos que nos Olímpicos.
Para além do engenho humano a resolver problemas, seja com cadeiras de rodas adaptadas seja, simplesmente, a saltar ao pé coxinho em direcção à sua meta, a outra coisa que deveras me impressionou foi ver as cerimónias de entrega de medalhas. Não vi todas, mas todas as que vi tiveram algo que me deixaram com pele de galinha: os atletas paralímpicos estavam genuinamente felizes por ali estar e abraçavam-se uns aos outros, sobre o pódio. Em contrapartida, nos olímpicos, salvaguardando alguma eventual excepção que desconheço, o clima sobre o pódio costuma ser de individualismo puro: um atleta bate o outro e fim da história.
Vivam os atletas, vivam os atletas paralímpicos, e que alguém por favor, os convide a falar em público para nos explicarem onde, como, quando arranjam forças para se superarem assim.