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Os inimigos da felicidade

Agora que temos uma linda apple TV e que terminou a nossa dependência do (fraco) discernimento das autoridades panamenhas no que a cinema diz respeito, temos visto filmes – alguns de ficção, outros não – muito interessantes.

Um deles, num zapping acidental, foi “Enemies of Happiness”, de Eva Mulvad, disponível gratuitamente aqui.

O documentário acompanha uma mulher, Malalai Joya, candidata à primeira Assembleia Nacional eleita democraticamente no Afeganistão, durante os dias anteriores ao acto eleitoral. Nas cenas que se desenrolam vemos não só a acção de campanha da candidata, como também a vemos a interagir directamente com os aldeãos, que recorrem a ela para mediar e resolver conflitos e outros problemas do quotidiano local.

Por ser mulher e por denunciar publicamente as actividades corruptas dos “warlords” locais, Malalai Joya tem de tomar inúmeras precauções de segurança: para sair, esconde-se debaixo de uma burqa, indumentária contra a qual se pronuncia.

O documentário espanta-nos, a nós, ocidentais e residentes em países onde, apesar de tudo, há liberdade, não só pela campanha eleitoral que faz, mas sobretudo pelos problemas que têm as pessoas que recorrem à sua ajuda.

Um dos casos é o de uma menina que é cobiçada para ser uma das mulheres de um homem muito mais velho que ela. Segue-se um diz que disse, que prometeu, que isto e que aquilo, mas o que entendemos mesmo é que a menina, para aquele noivo que tanto a cobiça, não é mais que mercadoria. E que se ela se suicidasse, em consequência de ser forçada a casar com ele, que ele daria dinheiro aos pais.

Malalai Joya vai navegando os conflitos como consegue, buscando um consenso, tentando recorrer às ferramentas de que dispõe: acompanha os pais à polícia, ajuda-os a fazer um pedido por escrito, fala com ambas as partes… o que não consegue é que o tal noivo entenda que aquela menina é uma pessoa, e não apenas mercadoria.

E aqui vemos como as coisas são diferentes no Afeganistão e a luta que é para aquelas mulheres sobreviver num país que as quer amordaçadas, e ainda assim ter a coragem de denunciar a corrupção que grassa e que impede o desenvolvimento do país.

É um documentário a não perder.

Edito este post para acrescentar os links para o site de Malalai Joya e uma notícia da Time sobre como os Estados Unidos não lhe estão a conceder o visto de entrada no país.