Category: Comida

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My birthday cake rocks

My birthday cake rocks

Vamo-nos mudar. Os três anos de projecto no Panamá chegaram ao fim e a vida é assim, cheia de mudanças. No nosso caso, de três em três anos, mais coisa menos coisa.

Quando viemos da Argentina cá para o Panamá, deixei no ar um desafio para ver quem adivinhava qual o nosso próximo destino. Bem sei que induzi alguns leitores em erro quando dei a pista de “Moro num país tropical”; fui malandreca, assumo.

Desta feita, deixo-vos as fotografias (todas tiradas pelo Príncipe) do bolo lindo, lindo, lindo que a minha amiga Catarina fez para celebrar o meu aniversário, no passado dia 8. Aliás, foi ao ver o bolo que algumas pessoas ficaram a saber a notícia.

E agora, caros leitores, preciso da vossa ajuda: que nome hei-de dar a este blogue? E à zine? Agradeço as vossas sugestões!

(Quem quiser contactar a Catarina e ter um bolo lindo, delicioso e cheio de pequenos detalhes para ir descobrindo, clique aqui.)

Arroz doce

Arroz doce

Nunca tinha feito, segui as indicações maternas, e saiu bem. Foi provado e partilhado por um casal colombiano, um casal chileno-mexicano e nós os dois. Em todos os países que estiveram representados à volta da nossa mesa, há uma versão desta sobremesa, ora mais caldosa, ora mais alaranjada, com canela, sem canela.

Mas tenho para mim que, como o nosso, não há. (Foi o meu comentário nada tendencioso do dia.)

De Istambul para o Panamá

Baklavas, directly from Istanbul

Baklavas, directly from Istanbul

Setembro e Outubro foram meses de muitas viagens de trabalho para o Príncipe, ao ponto de não conseguir chegar a desentupir os ouvidos entre descolagens e aterragens. Já estávamos os dois um pouco cansados da situação. O Príncipe, que já me conhece e sabe como me alegrar (comida, claro!), trouxe-me de uma das suas viagens – a Istambul, para ser mais precisa – uma caixa de baklavas deliciosos. Conta ele que foram embalados ainda quentes e selados em vácuo; no dia seguinte, chegaram ao Panamá, lindos, fantásticos, deliciosos e ainda estaladiços.

São diferentes dos que encontro cá; não sabem a água de rosas, mas são leves, levezinhos, e doces na medida certa.

Para mim, abrir esta caixa e encontrar um pequeno exército de baklavas de terracota, quero dizer, de massa filo, todos alinhados e lindos; pensar que cada um correspondia a largos minutos de prazer gastronómico… ah, foi maravilhoso.

E sim, Príncipe, a tua missão foi cumprida.

Torre Trump no Panamá

Esta é uma cidade de contrastes, uma aldeia que ser grande metrópole, onde o dinheiro abunda. Numa cidade onde a rede de esgotos continua a ter falhas e a expelir fantásticas ribeiras de cocó na via pública, erguem-se arranha-céus residenciais e, desde Julho, também hoteleiros, com o empreendimento Trump Tower.

Trump Tower in Panama City

Abriu em Julho, num dia de dilúvio bíblico, e como é aqui mesmo, mesmo ao lado, fomos logo visitar. No rés-do-chão tem uma arcada comercial praticamente vazia, com a excepção de uma pastelaria que me faz sentir em Portugal, e uma enoteca, que também serve refeições ligeiras e tem música ao vivo.

A recepção do hotel localiza-se uns 14 ou 15 andares acima, bem como alguns restaurantes já devidamente explorados: no Barcelona, bar de tapas, encontramos sempre caras conhecidas entre os empregados que lá trabalham, o que me faz pensar que este empregador deve ser excelente.

Trump Tower in Panama City

Trump Tower in Panama City

(Um pequeno parêntesis: Mãe, lembras-te daquele senhor no Don Patacón que nos serviu tão bem? Aquele cuja cor dos olhos era mais clara que o tom de pele? Pois com esse nos cruzámos da última vez…!)

Também há o restaurante Tejas, devidamente provado. A comida é correcta, as porções francesas (ou seja, mínimas) e o serviço é lento. Mudou a carta na semana passada, por isso talvez lá voltemos.

A oferta gastronómica é completada pelo bar da piscina, onde o ambiente é muito, muito giro, mas a oferta é muito restrita. É um bar de piscina que, à noite, em vez de se metamorfosear num restaurante com um ambiente muito especial, continua a servir as bebidas em copos de plástico e a ter um par de saladas e hambúrgueres. Na minha opinião, não chega.

Trump Tower in Panama City

Mas o espaço? O espaço é muito bonito, mesmo; mesmo tendo em conta que as varandas dos vizinhos se encontram a escassos 3 ou 4 metros, conseguiram criar uma atmosfera elegante e sofisticada, coisa que cá não abunda.

Trump Tower in Panama City

Nos primeiros dias, ainda tudo cheirava a novo, a tinta e a reboco. Hoje, a máquina já está mais oleada e a funcionar melhor; talvez o serviço não seja tão cerimonioso como no início, mas continua a ser acima da média local.

Sopa de tortilha, iguaria mexicana

Sopa de tortilla

Uma das coisas boas dos nossos dias panamenhos é a intensíssima vida social que levamos. Como este é um país com muitos, muitos imigrantes – só a empresa em que o Príncipe trabalha, diz-se, deslocou para cá mais de 600 famílias -, há muita gente com a mesma disponibilidade que a nossa. Ao contrário do que acontecia na Argentina, onde quase só tínhamos amigos locais, aqui as pessoas estão longe das respectivas famílias e por isso acabam por criar laços com mais facilidade.

Terminado o preâmbulo, é fácil entender que nos damos com muita gente, de muitas nacionalidades diferentes. E porque gostamos de comida – e diz que há mais gente que partilha esta loucura – criámos, assim meio por acidente, um Clube de Cozinha com mais dois casais. Os jantares vão alternando em casa de uns e de outros e cada qual apresenta uma iguaria do seu país.

Ora uma das primeiras sessões foi de comida mexicana, feita por uma mexicana, e foi uma delícia. Começámos com uma magnífica sopa de tortilla, acompanhada de abacate e queijo fresco. O impacto nas nossas papilas gustativas foi tal que a nossa anfitriã nos forneceu genuínas tortilhas para repetir a experiência em casa.

Igual, igualzinho? Não. Bom? Sim, senhores leitores. Uma delícia. E fotografei, como podem ver acima.

Gracias, Wicha!

Entre o Panamá e as memórias de Buenos Aires

Hoje estive a fazer tempo num lugar onde estava um piano de semi-cauda a ser tocado. Um lugar de passagem, o pianista já devia estar habituado a não receber a menor atenção porque, como estratégia, pegava as canções umas às outras, como se de um comboio se tratasse. Quem não estivesse atento, ouviria uma única canção, lá ao fundo.

Enquanto o ouvia lembrei-me de uma episódio ainda em Buenos Aires, mesmo antes de nos mudarmos para o Panamá.

Certa noite, por um passeio de uma qualquer rua da cidade, olhei para baixo – precaução imprescindível para não pisar “minas” nem tropeçar em lajes levantadas – e vi uma nota de cinquenta pesos (a taxa de conversão aponta para os dez euros, mas naquela altura equivaleriam em termos de poder de compra a uns vinte e cinco euros). Olho para todos os lados, porque cinquenta pesos a menos iria fazer muita diferença à pessoa que os tivesse perdido. Não vi ninguém, de maneira que peguei na nota e levei-a na mão, determinada a entregá-la ao primeiro sem-abrigo que encontrasse. Afinal de contas, aqueles cinquenta pesos não eram meus.

Por acaso do destino, não me encontrei com nenhum; nem com malabarista de semáforo, nem senhora com o filho ao colo a pedir comida. Não encontrei ninguém.

Os dias foram passando e a nota de cinquenta pesos continuava dobradinha à espera de ser entregue, até que na última noite em Buenos Aires, já a achar que não íamos encontrar ninguém, decidimos que o que tinha que ser tinha muita força. Aqueles pesos não eram nossos, tínhamos de nos decidir.

Fomos jantar a um restaurante muito bonito, num palácio que pertencia ao clube dos franceses. Entrámos e parecia que estávamos noutro tempo e noutro lugar, a viver um daqueles ambientes vagamente coloniais, vagamente Hemingway, com bar de cocktails e cadeirões de cana num pátio interior.

A sala de jantar tinha uma lareira grande onde pousavam as garrafas de vinho; a ementa do dia era declamada pelo cozinheiro. O jantar foi uma delícia, claro está, e o ambiente completado com um piano tocado ao vivo, numa sala ao lado, por um pianista que não recebeu uma única palma durante toda a noite.

No fim do serão, o músico veio às mesas recolher as suas gratificações: já tínhamos decidido que era aquela a pessoa que ia receber os cinquenta pesos. O pianista recebeu a nota, teve um momento de hesitação e espanto, depois olhou-nos emocionado. Não era preciso, não era preciso…

Ele não sabia, mas naquela noite calhou-lhe a ele receber o agradecimento que devemos a tantos pianistas de tantos lugares de passagem e que nunca recebem um olhar sequer de reconhecimento.

O senhor de hoje, surpreendido com as palmas, veio-me perguntar se gostava de música. Sim, gosto, e ainda mais tocada ao vivo.

Chamo-lhe um figo

Doces regionais algarvios

Doces regionais algarvios

Tenho uma gigantesca pasta de fotografias das férias aqui no meu computador. De vez em quando, vou lá espreitar e tiro uma ou duas imagens para ir matando as saudades.

Os doces regionais algarvios devem ser dos poucos da doçaria portuguesa de que realmente gosto, com todo o amor e paixão que se pode sentir por uma sobremesa. Não que não sejam deliciosos; eu é que não sou particularmente amiga de doces – de longe, prefiro salgados.

Mas aqui abro uma excepção: primeiro, porque são lindos. Imitam frutos, bichos, flores; são pintados com cores saturadas e, claro, sabem bem. Exceptuando os que têm forma de camarão-barra-lagostim-barra-gamba, adoro escolher um bolinho, trincá-lo devagarinho e olhar para o interior, para ver se tem fios de ovos. Adoro o contraste do ligeiríssimamente amargo da amêndoa com o doce predominante, a textura e o volume.

Dêem-me doces regionais algarvios (excepto em forma de gamba) e sou uma mulher feliz.

Calorias

No primeiro jantar na Casa de Lourdes, partilhámos uma entrada de vieiras grelhadas:
Vieiras a la plancha

O Príncipe comeu uns lagostins (e até verteu uma lagrimita ou duas por causa do “calor” do molho crioulo)…
Langostinos con salsa creolla

…e eu, que lagostins nem cheirá-los, deliciei-me com uns gnocchis de batata com molho de agrião.
Ñoquis de papa con salsa de berro

Terminámos esta frugal (ahem) refeição com uma mousse de maracujá, também partilhada (vêem? Frugal.).
Mousse de maracuyá

No segundo dia também lá jantámos porque nos tinham ficado uns quantos pratos por experimentar. Se a memória não me atraiçoa – e a garrafa de vinho com que regámos o repasto não ajuda na tarefa -, começámos com um magnífico carpaccio de mero, partilhado entre os dois.

Carpaccio de mero

Continuámos cada qual com seu prato: o carnívoro desta família, com um tournedó com agrião e outros perlimpimpins…
Tournedo con berro tibio y salsa de ajonjolí

…e eu com um prato de corvina com tomate, pimento e coentros. E também perlimpimpins, mas a memória, tal como temia, já me atraiçoa, o que está francamente mal.
Corvina con tomate, morrón y cilantro con salsa de miso

Terminámos com um esplendoroso Heart Attack, que felizmente resulta menos ameaçador que o nome que tem:
Heart attack!

Que é que teremos feito para queimar todas estas calorias, perguntam vocês? Isso é matéria do próximo post (e não é apto para todo o público).

Delícias

Uma das coisas que nos faz particularmente feliz na nossa vida panamenha é a disponibilidade de restaurantes com especialidades de países muito diferentes. A oferta, cá, é muito mais variada que em Buenos Aires, por exemplo, apesar de poder parecer estranho. Os porteños são muito cosmopolitas, mas, quando de comida se trata, os seus gostos são bastante limitados.

Aqui no Panamá, pelo contrário, não só os restaurantes são acessíveis, como a comida, em geral, é deliciosa, desde o tasco de praia até ao lugar mais sofisticado da capital.

Um dos restaurantes que nos faz imensamente feliz – mas que convém visitar em grupo, já que as porções são extremamente generosas – é o Beirut. Tem dois espaços, ambos agradáveis: um em plena zona bancária; o outro, no Causeway, uma zona da cidade usada pelos locais para actividades de fim-de-semana.

Não dá para inovar na descrição da comida: é deliciosa, abundante, fresca, bem confeccionada e bem servida. Ora vejam:

Hummus

Começamos com um belíssimo hummus de entrada, um creme de grão e sésamo de comer e chorar por mais.

Foul de habas

Seguimos com um um foul de favas, um prato que tem tudo para empanturrar o mais valente comensal, mas ainda assim é delicioso.

Falafel

E um pratinho de falafel, umas bolinhas fritas de puré de grão.

Como vêem, uma refeição ligeirinha, até agora. E ainda só vamos nas entradas.

Seguiu-se um delicioso prato que o Príncipe pediu; o nome escapa-se-me, e também se me escapou a oportunidade de o fotografar, já que foi imediatamente atacado e não agi a tempo.

Baclava

Terminámos com um pratinho de baclava, uma sobremesa à base de pistacho, mel (e um toquezinho de água de rosas, parece-me), tudo enrolado em finas camadinhas de massa filo. É doce na medida certa; regado com o chá que nos oferecem, é o fecho ideal de uma refeição memorável que pede, automaticamente, uma valente sesta.

Queijos de Chelas

Empanada de queso

Quesos Chela

A caminho das praias do Pacífico, pela estrada Interamericana, há uma casa que se impõe como instituição panamenha de referência, a Quesos Chela.

Conhecemo-la há bem pouco tempo, numa viagem que fizemos com amigos que já dominavam a cena gastronómica en route, e que tiveram a bondade de nos fazer ver a luz de umas deliciosas empanadas de queijo, um requeijão bem coalhado e um queijinho bem fumado.

Agora que já vimos a luz, não há viagem para as aulas de surf que não inclua uma paragem de reabastecimento nos “queijos de Chelas”, tendo como banda sonora a adaptação de uma canção que cantávamos nas nossas vidas anteriores quando éramos meninos de coro, Regina Coeli.

Mnham.

Quando chove lá fora, fenómeno diário durante a estação húmida, cá dentro fazem-se outras coisas, nomeadamente…

Fronhas novas
…um par de fronhas novas para as almofadas do sofá, com algodão estampado com motivos Kuna;

Na varanda
…e uma toalha aos quadrados, com guardanapos a condizer, para a mesa da varanda, que usamos diariamente. Já a necessitávamos há muito!

Sobre a mesa, uma lasanha feita pelo Príncipe e um tinto saboroso. Na varanda, mesmo que chova, até parece que estamos de férias…

Sem pilha

Já aqui contei que nesta casa temos um bolinho todos os fins-de-semana. Antes, era para sentir que esta casa era a minha casa; entretanto, o hábito instalou-se e já não dispenso um bolinho (ou biscoitos, como se pode ver abaixo) para o lanche.

Areias do Pacífico

Estas Areias do Pacífico (em vez das de Cascais, ou, no caso presente, de Esposende, já que usei a receita e os sábios conselhos da Alexandra) foram feitas no fim-de-semana passado e entre dois pares de ávidas mãos já praticamente desapareceram. Isto, apesar da quantidade de manteiga que a receita pede, totalmente proibitiva para o meu fígado desabituado dessas andanças. Assim se vê a delícia.

Talvez tenham levado um nico a mais de forno; para a próxima, tiro-as mais cedo. E tenho também de estudar uma substituição para a manteiga, tal como faço em todas as outras receitas (olá óleo de girassol).

Bolo de maracujá

Outra presença habitual cá em casa é o bolo de maracujá. Ontem tivemos visitas para jantar e num instante o preparei, com maracujá natural, claro.

Uma das vantagens de estarmos cá perdidos a oeste do sol posto é a fartura de fruta deliciosa como o ananás e o maracujá, básicos que nunca faltam cá em casa. Guardados no frigorífico, aguentam um par de semanas. E nós apreciamos.

Adaptei uma receita de um bolo de laranja e substituí um sumo pelo outro. Há dias em que também lhe acrescento uns toques de perlimpimpim (que é como quem diz: alecrim) para ficar mais perfumado.

Bolo de aniversário temático

E este é o famoso bolo de chocolate, feito com o igualmente famoso chocolate artesanal panamenho que tanto aprecio (lá está, junto com o ananás e o maracujá, é outra das vantagens de estar aqui).

O bolo aqui retratado foi feito para o aniversário de uma amiga, um pouco preocupada com o facto de estar a entrar num novo intervalo etário em inquéritos e censos. A ideia malandreca foi do Príncipe, a execução levou x-acto, açúcar em pó e uma peneira. A aniversariante gostou. E nós regalámo-nos com o outro bolo, o que ficou em casa.

Ainda bem que a balança está sem pilha.