Imagem: Fotomontagem a partir de frames deste vídeo.
Esta semana, a convidada do Creativity Series é a Célia Domingues. Cientista de profissão (tenho tanto orgulho nos meus primos cientistas!), é daquelas pessoas que tem a paciência de me contar, com todos os detalhes e utilizando um vocabulário que eu entenda, as fases da vida das suas Drosophila. Com ela aprendi coisas muito interessantes: para dar um exemplo, como verificar se as moscas ainda são virgens (e sim, é uma vistoria pertinente para a investigação).
Conhecemo-nos desde sempre porque somos primas; a dada altura cantámos juntas num coro universitário; anos mais tarde, foi a Célia que me “apresentou” a música do seu conterrâneo António Zambujo; demorei a visitá-la em Nova Iorque, mas quando lhe ganhei o gosto… já não quis outra coisa. As aventuras são muitas!
Por isso, sem mais delongas, deixo-vos com as palavras da minha prima Célia. Obrigada, Célia!
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A criatividade não tem definição, e pela parte que me toca, ainda bem!
Tentar definir criatividade é como tentar definir inteligência: todos sabemos reconhecê-la, mas é muito difícil defini-la, justamente porque…não tem regras e não tem parâmetros de referência rígidos.
Quando Tom Jobim escreveu e compôs a música “A Felicidade” usou de uma criatividade sublime. Quando aqui alguém no laboratório imagina uma hipótese como solução de um problema que mais ninguém tinha imaginado antes, também usa de criatividade. Em nova, a minha mãe descosia peças de roupa já usadas para costurar peças novas, num processo que exige criatividade. Criativo é o povo alentejano, que, na ausência de ingredientes mais ricos e variados, inventou a “açorda”.
Como encontrar uma definição que englobe manifestações tão diversas? É qualquer coisa que envolve imaginação e pensamento abstracto. Mas definição não temos. E precisamos? Se calhar não!
Ainda no outro dia vinha uma notícia no Guardian que prometia um avanço científico na elucidação daquilo que é a criatividade. Parece que analisaram o cérebro de vários músicos que foram convidados a tocar o que lhes apetecesse ao piano, na tentativa de determinar as regiões que são activadas enquanto a pessoa “cria”. Ficamos a saber que durante o processo criativo há áreas que se parecem activar mais que outras e a localização das mais relevantes, mas daqui até se entender de que modo é que a criatividade surge e é regulada, vai um longo caminho. Serve isto para dizer que pela parte dos cientistas, ainda estamos muito longe de vir a saber o que é isso da criatividade, “onde” reside e como é activada.
É provável que daqui a algum tempo já saibamos mais sobre o mapa cerebral da criatividade. Talvez nunca saberemos exactamente como funciona.
E queremos? Queremos mesmo saber que sinapses não convencionais aconteceram no cérebro de Tom Jobim enquanto escreveu “A Felicidade”?
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Este texto faz parte do projecto Creativity Series, onde peço a amigos que partilhem a sua definição de “criatividade”. Gostaria de participar? Escreva-me um mail. Para receber estes posts na sua caixa de correio, clique aqui.
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