Month: July 2013

A different kind of diet (approved by Popeye)

Cooking next week's lunches (i.e., future picnics in the park). #green

A few weeks ago, I was very close to a burnout. I was under a lot of stress and insomnia attacked relentlessly. After one week of almost no sleep, I had to stop and think why that was happening. Work. Work was the answer. Better yet: the permeability between work and personal life.

There’s no one to blame here but me. I did it all alone. I’m glad I figured it out before I was buried too deep under the weight of information overload.

I was never an early adopter or a dedicated gadget fan. That is, until the iPad and the iPhone entered my life. The first, used basically for leisure, brings me no conflict. It has made my work life more productive by clearly separating it from personal life. The iPhone, however, has brought me (and others) the sense that I am always reachable. This is a downward spiral in terms of work/life balance: clients get accustomed to receiving email replies at any time, evenings, weekends. Again: my fault, no one else’s.

Social networks are another black hole sucking me in without contemplation. I use them mainly for work, but also to connect with friends. The result? Stretching out my work hours into my off-hours and a serious lack of downtime.

That’s how I found myself awake in bed, unable to sleep, my heart racing despite my effort to relax. Right there I made the decision of taking better care of myself, starting by imposing serious clocking-off hours for me and absolutely no email checking on my cell phone. I took a long weekend off, took two books with me, had afternoon naps and went to bed early. And imposed a strict technology diet on myself.

Speaking of diets, one of these days while I was sorting through a gigantic pile of spinach, I had the sudden realization that that repetitive action was relaxing me into a meditative state. Like Popeye, I hugely benefited from a bunch of spinach; who knew?

How about you? Have you suffered from burnout? What steps did you take to avoid it?

*

Na semana passada, estive a milímetros de um ataque de nervos. Falo em sentido literal: o stresse foi tanto que tive insónias praticamente toda a semana. E porquê? Por causa de trabalho. Ou melhor, por causa da permeabilidade entre trabalho e vida pessoal.

A única culpada sou eu. Não foi a minha superior hierárquica (eu), nem os clientes. Fui eu sozinha que me meti no buraco; felizmente dei conta antes de me soterrar debaixo do peso do excesso de informação.

Confesso: nunca fui uma enorme fã de gadgets, até o iPad e o iPhone entrarem na minha vida. O primeiro é usado para lazer. Já o iPhone, um aparelho absolutamente maravilhoso, infiltrou-se na minha vida e esbateu a fronteira entre trabalho e lazer. Estar sempre contactável nem sempre é bom: os clientes habituam-se (porque nós os habituamos) a receber resposta ao Domingo. E quando não recebem, estranham.

As redes sociais são outro buraco negro onde o tempo parece evaporar. Uso-as não só de forma pessoal como também profissional; qual foi o resultado?O mesmo: onde termina uma coisa e começa a outra?

Assim foi que cheguei a uma sexta-feira com um total de doze horas dormidas durante a semana, às voltas na cama, com o coração aos saltos e sem o conseguir acalmar. Tomei a decisão de cuidar de mim. Se não o fizer, quem fará?

Alarguei o fim-de-semana e desliguei o telefone, não abri email nem redes sociais. Escolhi apenas uma distracção, a leitura, e de uma penada terminei um título e avancei o segundo. Dormi sestas os três dias e fiz noites completas. Não me preocupei com registar paisagens bonitas nem pratos bem servidos para partilhar no Instagram; limitei-me a admirá-los e depois saboreá-los.

Delineei uma estratégia de ataque ao stresse: sair mais cedo do trabalho, não ver email no telefone, limitar as redes sociais à actividade profissional, a acontecer durante o respectivo horário. E ao fim-de-semana, descansar, cozinhar se estiver em casa, ocupar-me com programas que me apeteçam fazer, seja ler, encontrar-me com amigos ou ir à praia. No fundo, uma dieta de tecnologia.

E por falar em dieta, há uns dias arranjava um enorme molho de espinafres quando me lembrei do Popeye e dos seus músculos de ferro. Pensei que aquela actividade, simples e repetitiva, mais do que braços hipertonificados me proporcionava uma mente relaxada e um ritmo cardíaco suave. Ou seja, todo o contrário de stresse.

E vocês? Já se sentiram à beira do abismo? Que fizeram? Que estratégias recomendam?

Is profit a dirty word?

"airing from Lisbon", issue 35, is here

A month and half ago, I started attending and online business course called Ten Thousand Feet. It has been an intense and fun ride, and it has kept me awake, more than once!, with ideas. So far, it has made me change the way I see my business and my relationship with money.

This course is aimed at mostly women like me, who are micro-entrepreneurs, have good ideas, work very hard to make them happen, and still feel unjustly compensated for their efforts. To give you one example from my own business history, I have three years of writing, illustrating and e-publishing my zine “airing from Lisbon”, formerly known as “We’re in Panama!”, completely free of charge. As much as I love making it, it takes at least one week of my work month, without a financial compensation. I want to be clear: I love to work pro-bono for a cause, and admire those who choose to donate their work to charities, but the point in cause is that work – in this case, my work – should be appropriately compensated.

I’m my worst enemy on this, and I want to change that.

This may sound weird to many, but cultural interference is important: I was brought up to not stand out from the crowd. There are historical and anthropological reasons for it, such as my parents’ generation having lived during a very long dictatorship. Standing out was not good at that time.

My excellent grades in school were not something to talk about: standing out in that context meant that I was “competitive”, had “leader’s attitudes” (as if that were a bad thing) and could provoke envy in others.

Last May, twenty years after being in school, I signed up for this course attracted by its concept: to work smarter, more efficiently, and to double my income in the next year. In financially appropriate terms, to increase my return on investment.

I suddenly saw myself (virtually) surrounded by people who believe that working to create value for the public and earning money are not mutually exclusive concepts. Profit is not a dirty word was the sentence a fellow colleague shared today, about one entrepreneur who worked well, saw his business grow, earned a good income and used a part of it to anonymously give back to his community.

This was the inspiration I needed to aim higher, to not be afraid to price my work well and mostly not care about the possible envy it may or may not provoke.

Politics, religion and money are taboo, was what I learnt when I was a teenager, and I know this topic isn’t easy. Still, I would like to know: what are your thoughts?

Share your thoughts below!

*

Há cerca de um mês e meio comecei a fazer um curso de negócios online. Dado por uma mulher, aliás, duas, este curso tem-me feito perder o sono pela incrível mudança de paradigma que tem provocado em mim, na minha maneira de encarar o meu trabalho, o meu negócio e a minha relação com o dinheiro.

O curso destina-se a pessoas como eu, micro-empreendedores, sobretudo mulheres, que têm boas ideias, fartam-se de trabalhar mas não vêem os seus esforços recompensados financeiramente. Para vos dar um exemplo, para trás tenho três anos de publicação mensal da minha zine ilustrada “airing from Lisbon”, antes “We’re in Panama!” (que adoro fazer e partilhar, por sinal), mas que não me traz nem um cêntimo de retorno financeiro. Imaginem que trabalhavam uma semana inteira por mês sem receber nada em troca? A menos que seja trabalho voluntário (opção perfeitamente digna), não tem graça nenhuma.

Talvez seja influência cultural, não sei, mas a minha educação sempre foi para não sobressair do conjunto. Na escola tinha excelentes notas, o que nem sempre jogava a meu favor. Sobressair significava muita coisa “má”: ser competitiva, ter atitudes de líder (como se isso fosse mau), despertar invejas.

Inscrevi-me neste curso pelo currículo e pela sua premissa: trabalhar menos, de forma mais eficiente, de forma a ganhar mais dinheiro. Em palavras “executivamente” bonitas, a ter um melhor retorno pelo meu investimento.

E de repente vi-me rodeada (virtualmente) de pessoas que pensam que criar valor, trabalhar para o bem comum e ganhar dinheiro não são conceitos antagónicos. Profit is not a dirty word foi a frase que li hoje, contada a propósito de um empreendedor que trabalhava bem, ganhava muito e que repartia os seus lucros com a comunidade de forma anónima.

Às vezes, é desta inspiração que necessito para almejar mais alto, para não ter medo de sentir que o meu trabalho deve ser valorizado e bem pago e que não devo temer as invejas que isso possa despertar.

Sobre política, religião e dinheiro não se fala, foi o que aprendi ainda adolescente, e sei que por isso o tema não é fácil. Mas quero saber: que opinam?

Dêem-me a vossa opinião abaixo!

Mais mimo, por favor

Cool #yarnbombing in Martim Moniz, #lisbon

Quatro meses volvidos depois do regresso a Lisboa, pergunto-me se a lua-de-mel está a chegar ao fim. De repente, dou por mim a reparar no lixo no chão, ou nas paredes pintalgadas por vândalos que gostariam de ser artistas de grafitti.

Talvez já se me tenha apagado da memória a sujidade absolutamente negligente das ruas da Cidade do Panamá, mas nos últimos dias tenho reparado que há vários bairros da nossa cidade que estão sujos. Os passeios estão cheios de substâncias várias, para além dos suspeitos do costume: aos cocós de cão (donos, onde andam vocês?) juntam-se manchas pegajosas de origem desconhecida. Manchas sobre as quais antigamente alguém mandava um balde de água com detergente, mas hoje parece que essas almas cuidadosas já não têm ânimo, energia ou idade para o fazer.

É pena. E voltamos ao mesmo de sempre: tudo o que temos é mau (e não o cuidamos); tudo o que vem de fora é excelente, e os estrangeiros são todos muito melhores que nós. É outra vez o fatalismo do “país que temos”, quando na verdade este é o “país que fazemos”.

Que caminho há para inverter esta situação? Bem, eu sugiro que sejamos nós a arregaçar as mangas, ou seja, a acção cidadã, que continua a ser a melhor, mais eficaz e expedita para resolver a maioria das situações que queremos mudar.

Proponho o seguinte: esta semana, se virem um papel atirado ao chão, apanhem-no e deixem-no no lixo. Se virem muito lixo, liguem para a Câmara.

Quanto aos horrorosos tags nas paredes, preciso das vossas ideias. Que fazer? Conhecem receitas caseiras para tirar aquela porcaria das paredes? Algum número para onde possamos ligar? Uma carta que possamos escrever à Câmara, alguém a contactar?

Ajudem-me, por favor. É que temos de cuidar o nosso espaço, seja ele Lisboa, Porto, Funchal ou Terceira. Não importa: é nosso, é de todos. E temos de ser nós a fazer algo para que todos possamos viver num espaço mais bonito.

*

Este texto foi inicialmente publicado no Portugalize.me. Como costuma acontecer nos assuntos do coração – no meu caso, paixão por Lisboa – gerou alguma discussão lá por terras facebookianas. Frutos dessa discussão são:

• plataforma da Câmara Municipal de Lisboa para o munícipe pedir recolha de lixo, lixo volumoso, entre muitas outras coisas
• grafittis limpam-se com diluente ou ácido muriático, à venda em drogarias (requer uso de luvas grossas e máscara protectora)

Uma cidade mais cuidada está nas nossas mãos, gente!

Cápsula do tempo

I'm never tired of Sebastião Rodrigues's work. This cover is 50 years and doesn't feel dated. #illustration #design #almanaque #portugal

Quando, há quase sete anos atrás, parti para a Argentina, fechei o que não vendi dos recheios da minha casa e do atelier em caixotes, guardados na arrecadação dos meus pais.

Os anos foram passando e em cada viagem de férias resgatei alguns livros que queria mesmo ter perto de mim. Não muitos, infelizmente; o limite de peso na bagagem de porão não o permitia (e o azeite da Capinha ganhou sempre).

Apesar de me ter continuado a rodear de livros, é para mim difícil explicar a alegria que senti, quando há umas semanas atrás desembalei os caixotes, limpei o pó aos muitos livros e os arrumei em estantes. Não consegui evitar a sensação de estar a abrir uma cápsula do tempo, em que até o ar era o que ali ficara fechado quando os livros foram guardados.

Descobri com alegria vários títulos que me acompanharam durante os meus anos de trabalho em Portugal.

É o caso do catálogo da exposição do trabalho de Sebastião Rodrigues, que teve lugar no ano de 1995, vivia eu ainda em Macau. Na altura já sabia que queria estudar Design, mas estava longe de conhecer o que se fazia em Portugal.

Sebastião Rodrigues ilustrou e paginou publicações, cartazes, postais. Dedicou-se aos seus trabalhos com um sentido de atenção ao pormenor e uma minúcia que a mim me apaixonam. Penso ser por isso que hoje me dedico a fazer ilustrações bordadas, e ensaio, de figura para figura, um ponto cada vez mais pequeno.

Nos dias que correm, fazemos, enquanto colectivo, uma inversão paradoxal nos nossos interesses: com o smartphone mais moderno registamos o apreço pelas técnicas tradicionais que definem a nossa identidade. E é por isso que, ainda hoje, o trabalho de Sebastião Rodrigues é tão actual: porque combina linhas e formas que ainda hoje são contemporâneas com uma admiração pela tradição e um domínio das técnicas de paginação manual.

Se tiverem oportunidade, não deixem de folhear este livro. Se forem como eu, vão precisar de pano absorvente para evitar a baba na folha.

(Este texto foi publicado pela primeira vez no Portugalize.me.)

Aqui e agora

I thought I was seaside. Fantasy courtesy of seagulls. #lisboa #lisbon #perfectblue

Esta foi a minha primeira semana no meu novo atelier. Três meses depois da chegada a Lisboa, finalmente sinto que começo a instalar-me. Na minha vida ainda há caixotes um pouco por todo o lado, mas decidi que não seriam esses (não muito) pequenos detalhes que me retirariam esta sensação de, finalmente, estar a estabelecer uma rotina na minha nova cidade.

Esta manhã, cheia de sol mas ainda fresca, trabalhava sentada, de janela aberta, quando comecei a ouvir gaivotas. Não foi imediato: comecei a ouvi-las, senti que era Verão, que estava na praia, a brisa do mar a bater-me na cara.

Mas não: estava sentada a trabalhar, no meu atelier, num dos projectos que tenho em mãos. Olhei pela janela aberta e vi uma gaivota pousada no telhado em frente. Nas suas tarefas de gaivota, comunicava com uma companheira, pousada noutro canto do telhado. O seu gaivotês despertou em mim uma memória de Verões anteriores; com ela, uma sensação de descanso, relaxamento, frescura, lazer.

Comecei a pensar em como se deve estar bem na praia, calor mas não demasiado, passeios à beira-mar, um gelado comido antes de mais um banho.

Não sei exactamente porquê, mas o meu pensamento inverteu-se. De repente dei por mim a pensar que em vez de longe e impossível era aqui, no meu novo atelier, com estas gaivotas a gritar e com este mesmo projecto que tenho em mãos, uma ilustração bordada que me traz imensa alegria… é exactamente aqui que quero estar.

Foi uma boa sensação.

E vocês? Aqui e agora, ou lá longe e impossível?

Este texto foi previamente publicado na minha coluna semanal no Portugalize.me