Month: June 2012

Há feiras e feiras

Esta semana, aqui na Cidade do Panamá, decorre uma feira da legalização promovida pelos serviços de migração, para proporcionar uma oportunidade de regularização àqueles que se encontram em situação irregular. Normalmente são pessoas de países circundantes, da América Central, que emigram para o Panamá, onde a divisa de facto é o dólar.

(Cumpre aqui abrir um parêntesis para explicar que uma das negociatas dos tempos do canal implicou que a moeda nacional, o Balboa, fosse sempre equivalente ao dólar, e que o papel moeda que circula seja o dólar. Cá no Panamá há emissão de moeda metálica, com tamanhos e valores iguais aos da moeda metálica dos Estados Unidos. Fecha parêntesis e segue.)

A miragem do dólar permite, portanto, a muitos destes emigrantes terem salários com os quais não poderiam sonhar se estivessem nos seus países de origem. Muitas vezes com uma educação ao nível do ensino primário, estas pessoas vêm fazer trabalho doméstico ou de “nanas”, tornando-se muitas vezes nas educadoras das crianças de muitas das famílias locais e radicadas no Panamá.

Estes imigrantes são alvos fáceis: de posição muito humilde e com muito poucos recursos para lutar pelos seus direitos, acabam por rapidamente exceder a validade dos seus vistos de entrada no país e ficar em situação clandestina.

Na rua, por incrível que nos possa aparecer, há polícias a pedir a identificação aos transeuntes (curiosamente, não aos extraordinariamente mal educados condutores, que muitas vezes nem encartados são), o que acaba por colocar estas pessoas numa situação ainda mais vulnerável.

Mas o Panamá precisa destes emigrantes e por isso, apesar de não lhes fazer a vida muito fácil, organiza feiras de legalização periódicas. E aqui chegamos ao presente.

Começou na segunda-feira passada mais uma feira da legalização. Para terem uma ideia, uma empregada doméstica cá tem um salário de 300 dólares, mais coisa menos coisa, e o investimento para terem a sua situação regularizada – por apenas dois anos! – é equivalente a mais de quatro salários. Sabem o que isso significa? Que não tendo acesso a crédito, precisam de um patrão que aceda a adiantar o dinheiro para que possam sonhar com andar pela rua tranquilas.

Mas as dificuldades não acabam aqui: também precisam de um patrão que as liberte uma semana inteira, já que a feira é tão desorganizada que as pessoas fazem filas desde Domingo, dormem lá, tiram senhas, esperam, revezam-se para poderem ir comer ou à casa de banho. Hoje, sexta-feira, e já passados quatro dias inteiros, dizem que talvez amanhã, sábado, pela uma da tarde, estejam despachados.

Que dizer? O panorama é este, e as pessoas que recorrem a estas feiras estão numa situação tão vulnerável que não ousam queixar-se. O que querem é sair de lá com o tão desejado carimbo no passaporte, para poderem estar tranquilas. Por apenas dois anos.

ICON7, the illustration conference

At Icon7, 13-16 June 2012

At Icon7, 13-16 June 2012

At Icon7, 13-16 June 2012

At Icon7, 13-16 June 2012

Last weekend I attended ICON7, the illustration conference that took place in Providence, Rhode Island. There is so much information to process that I still feel difficulty in putting everything into words. I felt very inspired by the stories told, specially the case of Idiot´s Books (check them out, they were gracious and funny, informative and inspiring). And Matt Groening and Lynda Barry´s talk was probably one of the best hours of live entertainment I have had in a very long time.

In just a few days, I met so many of the voices I have heard in podcasts like “Escape from illustration Island” and “Your dreams my nightmares”, by Thomas James and Sam Weber, respectively. I put faces on names, met new people and – most important – never had to explain what my job is (What? You draw pictures for a living?).

Now, I´m ready to get back to work!

Ovelhas há muitas

My #knitting is this big. Chamamos-lhe Ovelha Avó.

Desde Janeiro que estou a tricotar esta ovelha, digo, este cobertor. Ao início, era apenas meia dúzia de pontos na agulha circular. Depois começou a crescer e entrou na sua fase espanta-espíritos.

A metamorfose foi-se dando, paulatina: de nuvem passou a pequeno animal, e daí a ovelha, que foi crescendo e crescendo, à medida que fui tirando mais uma meada à caixa, a dobei e a fui somando aos milhares de malhas que o cobertor já tinha. A sua construção é circular, do centro para a extremidade; por isso, só acaba quando uma mulher quiser (ou nele se afogar), com uma borda, que também é tricotada. E estou nisso, na borda tricotada, depois de achar que dois metros e meio de diâmetro já requer uma cama nova – e um Inverno.

Enquanto testava malhas para a borda, perguntei ao Príncipe que achava e se não lhe parecia demasiado avó. Ele olhou para mim como quem estabelece o óbvio, levantou o indicador e apontou para a massa branca no meu colo: “isso tudo é a Ovelha Avó“.

Ficou baptizada.

The making part

This baby blanket is almost ready to fly out of Panama.

Last detail.

When the computer screen and I were so tired of each other and no longer friends, I moved to the other part of my job: the making. Two baby blankets were finished today and will be shipped tomorrow. Hope their rightful owners will love them and adopt them as their security blankets (which has happened and is greatest compliment I can receive regarding them).

For abbrigate*, of course.

This close to my heart

My knitting is this big. Chamamos-lhe Ovelha Avó.

Life has been full, with two large projects and several smaller ones. They fill me with joy. A bit like this crazy knitted blanket you see above: you knit and knit (well, I knit and knit) and you (I) just see the volume increasing, a large ball taking shape on your lap (mine, actually), the ball giving way to what looks and feels like a sheep (minus the smell), not having a clue of how large it actually is. The pattern – Elizabeth Zimmerman´s Pi Shawl – is very flexible to modifications and can go to infinity and beyond, may you wish to keep knitting for years. Provided you have enough yarn to put in it.

Well, I certainly did have enough yarn to make a blanket that now seems to have about 2.5 meters in diameter (I must get a large enough bed to put it to use) and pacifically ignored the fact that it´s too hot in Panama to ever, ever need a woolen blanket on my bed (or sofa, for that matter).

I don´t care: I have knitted a sheep, a very large one, for a very long time now. It has been with me through good times and not so good ones; and some days I didn´t even find the courage to actually hold the needles and yarn in my sweaty hands. But now I´m happy it is coming to an end and I will finally be able to completely unfold it and admire my work, for the first time.

A bit like life: we can only fully appreciate a situation when it is over.

(Who knew that knitting lent itself to life metaphors?)

¡Viva México!

"We´re in Panama!", issue 24

Está no ar o número 24 da zine!

Este mês, o tema é o México, essa cidade e esse país de que tanto, tanto, tanto gostei. A inspiração foi tanta que desta feita tinha muitos, muitos desenhos que não pude incluir por falta de espaço.

E também: no mês que vem celebramos os dois anos de publicação zinesca ininterrupta! Incrível, não acham? Estou a arquitectar um plano celebrativo que se estenderá, naturalmente, aos meus caríssimos leitores. Em breve darei notícias.

Boas leituras e bom fim-de-semana!