Passos para um início de semana infeliz

Estamos sem água há 48 horas.

Sexta-feira à noite recebemos um pequenino recado da administração do edifício a avisar que vamos ter um corte no abastecimento de água no Sábado, entre as 9 da manhã e as 9 da noite. Adorámos saber com toda essa antecipação e pusemo-nos a encher baldes e panelas com água.

Sábado tivemos água durante todo o dia, já que o edifício dispõe de reservatório próprio para estas ocasiões. À noite, ao chegar a casa e cheios de vontade de um duchinho antes de ir dormir, nada: torneira sequinha, sequinha, como se este não fosse um país tropical onde chove a cântaros praticamente todos os dias da estação húmida (a tal que dura nove meses e na qual nos encontramos).

Domingo de manhã aquecemos a água das panelas e tomamos um belo duche vintage, isto é, de alguidar. O prognóstico é que daí a duas horas o abastecimento se regularizaria.

Domingo à noite, nada de água. Torneira seca, sequinha, aliás tal como esta manhã, segunda. Continuo a aproveitar a água do desumidificador para lavar as mãos e tivemos, por breves minutos, um pouco de água potável pela torneira: enchi uma panela e fiz um chá para beber durante o dia.

O IDAAN, organismo responsável, diz que a válvula que estiveram a reparar avariou no momento em que voltaram a ligar a água no Sábado à noite. A administração do nosso edifício, responsável pelo nível de água no reservatório, diz que ontem comprou dez mil galões de água. Desses dez mil galões, eu enchi a tal panela. Já fizeram circular um memorando pelo edifício em que, basicamente, se isentam de qualquer responsabilidade, atirando em todas as direcções: no IDAAN, que não há forma de dar uma previsão nem de terminar de arranjar a mencionada válvula; nos moradores do prédio, que usaram a água de forma pouco racional. Só se esquecem deles próprios, que não conseguiram manter o volume de água no reservatório num nível aceitável.

No meio disto tudo, os andares mais altos são os últimos a receber o precioso líquido, e por isso aqui continua tudo muito sequinho. Até quando, não sei. Um dos principais traços culturais dos panamenhos é a sua total incapacidade de dizer “não”, por isso desde ontem que ouvimos que a situação se vai resolver “dentro de duas horas”, que “já comprámos mais água”, “o camião-cisterna vem a caminho” e “a água já está a ser bombeada”. As duas horas já lá vão há mais de 24, e nós aqui continuamos.

A pergunta lógica é: então e não há ninguém que nos possa albergar para um duche? Há sim senhora, temos a sorte de ter vários vizinhos aqui na zona que não ficaram sem água. Porquê? Porque por alguma razão o volume de água nos reservatórios dos respectivos prédios se mantém alto. E porque é que ainda lá não fomos? Porque continuo a acreditar que o Pai Natal chegará em forma líquida, pela torneira.

Hoje é daqueles dias em que troco a casa grande e a vista de mar por uma apartamento acanhado num país civilizado. Já sei que retrospectivamente vou achar imensa graça a estes episódios. Mas hoje, seguramente, não.

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7 comments

  1. Anonymous says:

    Faz lembrar o episódio da falta de luz, em Fevereiro.
    Espero que o fornecimento de água já tenha sido restabelecido.
    Bjs.
    M

  2. Anonymous says:

    No Natal passado, tivemos um episódio de avaria do aquecimento solar que temos agora em casa da minha avó. Tendo em conta que somos 8 adultos e 3 crianças, não ter nenhuma água quente em Dezembro foi uma experiência muito interessante. Como resultado, passámos a quadra natalícia a tomar banho pelas casas da família (que, felizmente, por lá é muita).

    O meu melhor momento foi quando estivemos (eu e os miúdos), na véspera de ano novo, de pijama e casaco, à espera uns bons minutos à porta do prédio dos meus primos, numa das zonas mais movimentadas da vila, porque a campainha deles não tocava… eu não tinha telefone, ninguém abria a porta, até que lá veio uma vizinha adolescente caridosa que nos abriu a porta!
    fungaga

  3. Billy says:

    Ai, Fungagá, isso para mim era sinónimo imediato de amigdalite! Como é que aguentaram?

    Karen, já voltou tudo a uma relativa normalidade, mas entretanto já faltou o gás. Alegrias da vida aqui!

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