O meu marido é um guerreiro ninja

Ontem andávamos nós a passear e a fotografar jacarandás em flor, sentados – quase literalmente – na nuvem mais cor-de-rosa do mundo, quando de repente aconteceu o que jamais me tinha acontecido: fomos quase vítimas de um assalto.

Tudo se passou muito rapidamente e o que me lembro daqueles poucos segundos são meros flashes: no primeiro, senti dois vultos atrás e muito perto de nós. O meu pensamento, alguém que o Paulo conhece. No segundo momento, a pessoa do meu lado agarrou-se à minha mão, a que levava a máquina fotográfica. Perguntou-me “me pasás esto?” e começou a fazer força para me fazer largar a máquina. Nesse instante, da surpresa dos amigos passou rapidamente para a clareza do “isto é um assalto!” e aí gritei. Primeiro, gritei-lhe que não, que não. Fiz força para conservar a máquina na mão – e consegui, graças à correia de segurança que anda sempre, mas sempre enrolada no pulso. A miúda – nesta altura já tinha percebido que eram duas miúdas, garotas aí pelos seus vinte anos, com idade para ter juízo – só me conseguiu agarrar a bolsa da máquina e afastou-se com ela, vitoriosa, até que percebeu que lá dentro não ia nada.

A seguir, o terceiro momento, aquele que eu denomino de “instante-guerreiro-ninja”: vejo o Paulo no ar, perna em riste, a dar um enorme pontapé à outra miúda. Nesse momento, percebi que a sorte estava do nosso lado, pois elas começaram a afastar-se, certamente com pouca vontade de lutar.

Conta o Paulo que, ao princípio, também tinha pensado que fosse alguém conhecido a pregar-nos uma partida (de gosto duvidoso, acrescente-se) e que, quando me ouviu gritar, percebeu que não. Sentiu uma pressão: pensamos que a ajudante lhe encostou uma chave às costas para ele se sentir ameaçado e não reagir. Contudo, ao ouvir-me gritar, defendeu-se como sabia ter mais efeito, que foi com um pontapé no flanco. A chiquita hoje deve ter acordado com uma valente nódoa negra, no mínimo.

Toda esta acção, que durou uns meros segundos (que pareceram dias), revelou-me algo que eu não sabia: quando chegou o momento de libertar a adrenalina e a agressividade da cena, saíram-me impropérios tanto em português como em castelhano, de forma igualmente natural. O Paulo comentou mais tarde que nunca me tinha ouvido dizer tantas asneiras; olhando para trás, eu não disse muitas asneiras, eu repeti-as foi muitas vezes.

Resumindo: Mães, estamos bem. Paulo+Billy, 1; miúdas parvas que nem sequer estavam a roubar para comer, já que pela compleição física se podiam perceber uns quantos alfajores a mais, 0.

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7 comments

  1. Bau says:

    Yeah! Não lhes disseste “toma que já almoçaste!”, “vão-se encher de moscas!” e “vai-t’a comer um ganda boi!”? Não? Como é que é isto tudo em castelhano? Repito… YEAH! Pena o rotativo do Paulo não ter apanhado as duas meliantes. Não há paciência para a gandulagem, sobretudo aquela da estirpe “só-porque-sim”!

  2. Que susto! (pai e mãe em simultâneo).
    Onde é que isso se passou? A miúda deixou-te a capa da máquina? Apareceu alguém, polícia, transeuntes, etc?
    Lembro-me que também fiquei muito zangada e gritei muito ao “nosso assaltante do 12º andar, em Macau”.
    Será de família?
    Beijinhos e boa semana, sem percalços!
    M

  3. Bem isso é que foi coragem, o facto de teres dito algumas asneirase impropérios é normal, tipicamente de quem é português, já me aconteceu uma situação semelhante e também estava com o meu marido, foi tudo mt surreal e acredita, também não tenho mt paciência para esse tipo de situações, mas ainda bem que correu tudo bem. Beijinhos bons…

  4. alcinda leal says:

    Mais uma vez te digo que é nestas situações que nos conhecemos verdadeiramente, e não me refiro aos palavrões, mas à garra com que tu e o teu ninja se defenderam!
    O que vem a seguir é a adrenalina a funcionar…
    Beijinhos
    Tia Alcinda

  5. Billy says:

    Mãe, a cena passou-se perto do jardim da flor de metal, entre a Figueiroa Alcorta e a Libertador. Depois passou um transeunte que ficou sem saber se ajudar, se não, mas a essa altura já tudo tinha acabado.

    Bau, foi mais ou menos isso que lhes disse às miúdas… 😉

    Sónia, não faço ideia se é de ser portuguesa que me saíram tantos impropérios, acho que foi mais a adrenalina! 😀

    Tia, o guerreiro ninja realmente é fora de série. 🙂 Acho que nenhum dos dois sabia que o outro ia reagir assim, foi uma coisa totalmente instintiva. Ainda bem que tudo acabou bem!

  6. Anonymous says:

    Ufa!Ainda bem que tudo já passou!Reagiram os dois muito bem.
    Os vossos sentidos não estavam só despertos para a beleza das jacarandás!
    Esse instinto rápido de defesa está de 5 estrelas!
    Sempre vale apena o ginásio e a vida saudável.
    Falei hoje com o “ninja” e não me disse nada!…
    Ainda bem que o dom da escrita está bem entregue!

    Beijinhos
    Fátima

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