Month: June 2007

Colômbia parte V: de pulseirinha posta

Três dias in-tei-ros de sol e de sesta, de banhos e de leituras à beira-mar ou perto da piscina. Ao longe, no horizonte, uma ilhota tropical cheia de palmeiras a emergir de um mar de uma cor entre o turquesa e o celeste. Enfim, pouco habitual para os nossos olhos destas zonas temperadas.

A pulseirinha posta significava que tudo estava incluído e, durante três dias, soube bem não ter de pensar onde íamos jantar ou almoçar. Já sabíamos que era algures por ali, que não íamos ter trabalho nem esperar muito pela refeição. E, já que estamos nisto, a qualidade e a variedade da oferta não era nada má.

Nos bares do hotel, o Paulo ficou fã do Malecón de los Enamorados que, para ele, se transformou em Molocotón de los Enamorados. Por falar em melocotón, de repente na Colômbia o léxico já é mais parecido com o de Espanha: frutilla já é fresa outra vez, tal como durazno volta a ser melocotón.

(A anedota, a respeito dos nomes das frutas, foi mesmo em Bogotá, alguns dias depois, quando quis pedir um batido de banana. Havia lá um batido de banano, mas uma pessoa nunca sabe ao certo até que ponto estes nomes são verdadeiros ou falsos amigos, dado que, na língua espanhola, uma palavra super comum num país pode ser uma asneira odiosa noutro. E por isso, fiz a figura de parva do ano ao perguntar ao rapaz se banano era banana… Aqui na Argentina, banana é banana, mas por exemplo batata é papa e batata doce é batata. Uma pessoa confunde-se!)

Voltando a San Andrés e ao Malecón de los Enamorados das predilecções do Paulo, nos bares do hotel até os cigarros estavam incluídos, imagine-se!!! Pela parte que me toca, fiquei-me pelos sumos naturais e olá se bebi muito sumo de maracujá, de morango, de guanabana, de lulu, de banana… (não me perguntem que frutas esquisitas são estas pois não faço ideia dos respectivos nomes em português).

Li o livro do Murakami num ápice: depois do da Almudena Grandes, com para cima de trinta mil páginas, despachei uns quantos em muito pouco tempo. Foi bom, bom não ter de parar de ler para ir trabalhar ou para outro compromisso qualquer. Foi ler, e depois ler e no intervalo dormir a sesta.

Cartagena: algumas fotografias

Gosto desta

A Heróica chiva do nosso contentamento

Momento embaraçoso

Hoje fui pagar uma factura de electricidade já vencida. Para quem não sabe, não sei se em toda a Argentina, mas pelo menos em Buenos Aires há uma coisa chamada “Pago Fácil” e que, supostamente, devia facilitar o pagamento das contas. Mas não facilita. Em todo o caso, como a factura estava vencida, já não dava para pagar no “Pago Fácil” (que é difícil) e tive de ir directamente a uma das sucursais da companhia de electricidade, que por sinal até ficava pertinho da aula de castelhano.

Quando cheguei, o segurança sorriu-me e perguntou-me se me podia ajudar (até aí tudo bem), indicou-me onde é que devia pagar a factura (tudo bem também) e lá fui eu.

Paguei a factura sem novidade (confesso que estranhei!) e dirigi-me à saída, passando, naturalmente, pelo segurança.

Disse-me qualquer coisa que não percebi, aproximei-me, depois percebi que estava a ser simpático e a oferecer a mesa dele para eu apoiar o meu saco enquanto arrumava a tralha toda lá dentro. Aproximei-me e sorri, ele estava a ser simpático, vá, e vai daí ele sai de trás da mesa e vem dar-me um beijo.

Na cara, sim, também era o que mais faltava.

Colômbia parte II: em Cartagena

Cartagena é uma cidade com um centro histórico muralhado e, diga-se de passagem, muito bem conservado. A traça é espanhola, claro, com ruas mais ou menos ortogonais, muitas praças e casas com entre um e três pisos, as mais baixas para os estratos sociais mais baixos, subindo em altura à medida que o seu proprietário sobe na pirâmide social. Isto, claro, na época colonial, dado que agora todo o centro é a área de maior excelência com o metro quadrado mais caro da Colômbia, se não estou em erro. É lá que está a casa de veraneio do Gabriel Garcia Márquez, por exemplo.

A cidade colonial é linda. Muito bem conservada e pintada com cores vivas, nas varandas de madeira vêem-se plantas trepadeiras e muitas flores. Nas ruas, as pessoas sentam-se e tentam combater o calor com o ocasional leque, ou então apenas prostradas à sombra de uma árvore, à espera da brisa. O calor, pelo menos em Junho, é perto do infernal, a humidade não lhe fica atrás e dá o golpe de misericórdia no banho fresco acabado de tomar. A mosquitagem não ajuda, é certo, mas há sempre um suminho natural delicioso para beber.

(Um pequenino à parte: bebi uma limonada com leite de coco que ainda hoje me deixa de água na boca…)

Fora das muralhas há algumas ruas coloniais, o castelo de São Felipe de Barajas e, em cima da única colina, um convento (achava que era de Santa Clara mas diz o Paulo que é de Santo Agostinho).

As zonas novas têm encantos naturais parecidos com o Rio de Janeiro (numa escala mais pequena), com o recorte da costa a fazer praias em plena cidade, e os desencantos da paisagem humanizada não planeada. Apesar disso, por não ser muito grande, é uma cidade que mantém o seu encanto praticamente intacto e um passeio no seu centro histórico numa carruagem puxada por cavalos é um momento absolutamente inesquecível.

Colômbia parte III: Cartagena City Tour

Uma das atracções na visita a Cartagena é o city tour numa típica chiva, um veículo local de passeio adequado ao calor e ao carácter festivo, com ventilação natural e muita, muita cor. No fundo, é uma camioneta parecida com um eléctrico de São Francisco, só que muito, mas mesmo muito ruidosa. Cada uma tem um nome e a que nos calhou era “Heróica”. Heróica, sim, porque lá subiu a inclinada ladeira até ao convento, sobretudo tendo em conta que o peso médio dos passageiros era largamente superior aos nossos (somados).

Arranjámos, na boa tradição da família Monteiro Ramos, nominhos para todos os participantes do passeio, inclusivamente para o tonto que ia a fazer a reportagem em vídeo e que vendia o DVD a 50 000 pesos colombianos (algo como 25 euros, após consultar o meu conversor humano de divisas). Explicou-nos, entre dois monumentos, o conteúdo do seu magnífico DVD e pediu-nos que manifestássemos atempadamente o nosso interesse para que pudesse filmar-nos mais… claro está que o meu jogo durante a tarde passou a ser a “fuga ao filme”, escondendo-me sempre subtilmente atrás de alguém. Ele percebeu e passou a chamar-nos o tempo todo: “Portugal, Portugal! Donde está el cabrón? En la mochila?”.

(faço aqui uma pausa dramática para enfatizar a pergunta anterior e esboçar a que se impõe: “cabrón? hmmm?”. Preocupação no rosto da minha Mãe: “ai, desgraça da rapariga agora aqui a dizer tantos disparates, para o que lhe deu!”. Mãe, nada temas: tudo tem uma explicação.)

No convento, o guia contou uma lenda sobre um “cabrón” que tinha desaparecido. Confesso que não me lembro bem dos pormenores mas aparentemente o tal “cabrón” refere-se a um bicho que era adorado e provavelmente sacrificado por seitas não-cristãs, o que provocou o estupor nos primeiros missionários que lá chegaram ao alto do monte e se depararam com o espectáculo.

No meio disto tudo, o choné do homem-vídeo teve sorte: esboçámos o nosso melhor sorriso amarelo e não respondemos torto…

Colômbia parte I: aventuras e desventuras nos aeroportos desta América Latina

As férias começaram numa fria madrugada porteña.

Contrariamente ao que temia, os radares do aeroporto e a meteorologia não nos decepcionaram. O que nos ia deixando em terra, isso sim, foi a velocidade (ou a falta dela!) do check-in para o voo Buenos Aires-Bogotá. Estivemos na fila mais de hora e meia e, quando chegámos ao balcão, lá pudemos compreender o porquê de tanta demora. A emissão dos cartões de embarque, bem como as demais operações, era feita manualmente. Sim, manualmente! O cartão de embarque vinha preenchido à mão… Enquanto o funcionário preenchia o dito cartão, era preciso ir a outro balcão pagar a taxa de entrada na Colômbia. Assim é, paga-se uma taxa para entrar no país.

A viagem é bastante longa, algo entre seis e sete horas. E estamos sempre na América do Sul! Estes passageiros dormiram o tempo quase todo porque a alvorada havia sido antes das cinco da manhã.

A escala em Bogotá foi, provavelmente, a escala mais rápida da história. A imigração foi completada em menos de nada, com acesso às filas preferenciais da tripulação e de diplomatas e umas meninas da Avianca, localizadas em pontos estratégicos, chamavam-nos e registavam o nosso progresso naquele jogo de pista em direcção ao terminal doméstico. Ali entrámos por uma porta e saímos imediatamente por outra, num verdadeiro “sem passar pela casa da partida nem receber dois contos”. A ida à casa-de-banho foi um novo contra-relógio em que desembaraçar-me do cinto foi um problema.

Chegámos por fim ao avião e, uma hora e uns trocos depois, a Cartagena de Indias, a nossa primeira paragem na Colômbia, terra de calor húmido e mar caribenho, ceviche e outras iguarias com peixinho fresco.

Colômbia: introdução

Em primeiro lugar, desengane-se quem pensa que a Colômbia é toda igual àquilo que aparece nos filmes de Hollywood. A Colômbia que visitei é sítio de boa comida, peixe bem fresco e gente muito simpática. Já me estava a esquecer de que o castelhano que falam é o mais cortês e bonito que ouvi até agora: não há frase sem floreado e até a simples resposta a um “gracias” é um “con mucho gusto, para servirle”.

Os primeiros três dias foram passados em Cartagena de Indias, uma cidade muralhada no mar das Caraíbas, ou seja, na costa colombiana atlântica. Daí voámos para San Andrés, uma ilha mais perto da Nicarágua que da Colômbia, mas que “por adopção” (como nos explicou o taxista assim que chegámos) pertencia a este último país. Os últimos três dias foram passados em Bogotá, que funcionou como plataforma de readaptação ao frio e à cidade.

Chegámos a Buenos Aires em dia de eleições municipais com o bom auspício do radar de Ezeiza e hoje foi o regresso ao trabalho.

Ora foi assim…

De regresso

O radar cooperou tanto na ida como no regresso e hoje chegámos a uma Buenos Aires com -2ºC. O estágio em Bogotá, que está num planalto a 2800m sobre o nível do mar, ajudou a fazer a transição do calor tropical de San Andres para o Inverno austral.

Brevemente, neste “sítio do costume”, relatos e imagens da Colômbia.

Colombia

Amanhã, se o nevoeiro e o radar do aeroporto de Ezeiza não se opuserem, lá vamos nós em direcção à Colômbia, país de grandes cidades, belas praias e espero que fantástica comida. Estou desejosa de comer peixinho fresco verdadeiro!

Estou ainda mais desejosa de visitar este país e de opôr àquilo que vou encontrar todas aquelas imagens feitas vendidas pelos filmes americanos e pela distância (mais que física, do desconhecimento) que separa a Colômbia da Europa. Para além de Gabriel García Márquez, Shakira, droga e violência, certamente que a Colômbia tem muito, muito mais para mostrar. Acho que só Bogotá tem mais habitantes que “todó” Portugal…!

Também estive a ver a previsão do tempo: ora em Buenos Aires amanhã vamos ter chuva e temperaturas entre os 3º e os 14º. Para Cartagena de las Indias, onde já vamos passar a tarde (lá está, se o radar cooperar), a previsão indica 31º!

Bem, tenho de ir escolher a roupa e fazer a mala! 😀

A tareia

“A tareia” é o título das três minhas últimas noites: sonho leve, com pesadelos e uma sensação geral de “ter levado uma sova” ao acordar. Mudámos de colchão.

Tenho saudades do meu querido e já algo gasto colchão de Portugal. Até já tenho saudades do colchão IKEA que estava antes na cama. Agora é um ferrari (qual ferrari, eu gosto mais de porsche!) do mundo dos colchões, mas deixa-me toda dorida.

Como diria certa mini-pessoa (cujo nome não podemos revelar): “ai, fida!”.

Santo Antoninho, tao longe me vais ficando!

Até nem sou uma fanática das multidões e dos apertões característicos da data, mas não posso deixar de sentir alguma nostalgia quando penso na sangria má, na barulheira até de manhã, no cheiro a fritos das farturas e na sardinha com salada de tomate e pimento verde, no bailarico (nos últimos anos ao som de um sucedâneo de Ivete Sangalo) e na dor de pés ao final da noite.

Mas, agora que estou cá longe, todas estas coisas adquirem um carácter pitoresco e o saborzinho a Lisboa, a bairro e a Verão, trazem-me saudosa e suspirante.

Nitidamente as raparigas argentinas não precisam de pôr ao luar o nome dos seus pretendentes: são tão lindas de cair para o lado que o Santo António aqui não tem trabalho nenhum.