Category: Buenos Aires

Too complex? Maybe not.

026_2013.08.23

One of my favorite procrastiworking* tasks is to browse my favorite blogs and marvel at the beautiful photos. I like imagining how complex-looking projects are done and am marveled when I learn that sometimes those pieces have a deceivingly simple technique.

When I gave my first tentative steps into the embroidery world, I thought that it was too complicated, too focused on minutiae. Actually, and this is a true story, when I lived in Buenos Aires, there was an embroidery shop right around the block. I used to walk by and see groups of people gathered around a table, learning and sharing, talking and stitching. And I never joined them! I thought it was too complicated, not for me.

Looking back, I try not to beat myself up for not jumping at that opportunity, eyes closed. Think about it: it would have been the perfect way to meet new people in a city where I knew no one (it seems I later learnt my lesson by joining a knitting group); I would have learnt new techniques I would cherish today, with both locals and other expats.

I know that sometimes when something looks too complicated it is hard to imagine that it can be for me. But now I know that many techniques are incredibly simple, although they look awfully complicated.

If you’re feeling the same way about embroidery, I invite you to download my free, step-by-step tutorial of my favorite embroidery stitch and try your way with it. You may use some left over materials at home: with a basic sewing kit (those given at hotels and sit unused at home are great) and any piece of fabric (an old shirt, a tea towel) you will be able to see how easy this stitch is.

Grab the tutorial here, a sewing needle, some thread and a piece of fabric.

Let me know how it went in the comments below, will you?

See you soon!

*I borrowed the term “procrastiworking” from Jessica Hische, a fantastic designer and illustrator whose website can be found here.

*

Uma das minhas tarefas favoritas, quando quero procrastitrabalhar*, estou cansada ou com dificuldade em começar um novo projecto, é visitar os meus blogs favoritos e deliciar-me com as fotografias. Maravilho-me com alguns dos projectos fotografados e adoro tentar imaginar como é que terão sido feitos. É incrível constatar que, por vezes, as peças que parecem mais complexas são feitas com técnicas muito simples.

Antes de entrar no mundo do bordado, era de opinião de que seria uma técnica demasiado complicada, detalhista e minuciosa. Na verdade, quando vivia em Buenos Aires tinha uma loja de artigos para bordado mesmo ao lado de casa. Passava à frente da montra quase todos os dias e via sempre pessoas à volta da grande mesa que lá tinham, a conversar, a bordar e a aprender. E eu nunca me juntei! Sempre pensei que era demasiado complicado, que não era para mim.

Sabendo o que sei hoje, tento não me recriminar demasiado por não ter aproveitado tão fantástica oportunidade de aprender coisas novas e de fazer amizades. Tendo em conta que na altura não conhecia ninguém lá, teria sido excelente.

(abro parêntesis para contar que parece que aprendi a lição: um ano mais tarde já estava num grupo de tricot, passaporte para a minha verdadeira integração.)

Sei que por vezes me sinto intimidada quando algo parece ser complexo, e penso imediatamente que não é para mim; mas depois desta experiência que vos contei, fiquei vacinada: há técnicas que são muito simples, mas que produzem resultados que podem ser muito minuciosos.

E como sei que o que me aconteceu a mim pode acontecer a qualquer um, queria aqui partilhar que estive a preparar um passo-a-passo para o meu ponto favorito de bordado. Descarrega-o e faz a experiência com os materiais que tens em casa: uma agulha, algo de linha e um resto de tecido (uma camisa ou lençol velho, por exemplo) são suficientes para constatares que afinal bordar é muito fácil do que parece.

Com o passo-a-passo, uma agulha, um pouco de linha e um pedaço de pano podes fazer a experiência.

Conta-me como correu nos comentários abaixo, por favor!

Até breve!

*Procrastitrabalhar, “procrastiworking” no original em inglês, é um termo inventado pela designer Jessica Hische, cujo trabalho é fantástico e pode ser visto aqui.

Entre o Panamá e as memórias de Buenos Aires

Hoje estive a fazer tempo num lugar onde estava um piano de semi-cauda a ser tocado. Um lugar de passagem, o pianista já devia estar habituado a não receber a menor atenção porque, como estratégia, pegava as canções umas às outras, como se de um comboio se tratasse. Quem não estivesse atento, ouviria uma única canção, lá ao fundo.

Enquanto o ouvia lembrei-me de uma episódio ainda em Buenos Aires, mesmo antes de nos mudarmos para o Panamá.

Certa noite, por um passeio de uma qualquer rua da cidade, olhei para baixo – precaução imprescindível para não pisar “minas” nem tropeçar em lajes levantadas – e vi uma nota de cinquenta pesos (a taxa de conversão aponta para os dez euros, mas naquela altura equivaleriam em termos de poder de compra a uns vinte e cinco euros). Olho para todos os lados, porque cinquenta pesos a menos iria fazer muita diferença à pessoa que os tivesse perdido. Não vi ninguém, de maneira que peguei na nota e levei-a na mão, determinada a entregá-la ao primeiro sem-abrigo que encontrasse. Afinal de contas, aqueles cinquenta pesos não eram meus.

Por acaso do destino, não me encontrei com nenhum; nem com malabarista de semáforo, nem senhora com o filho ao colo a pedir comida. Não encontrei ninguém.

Os dias foram passando e a nota de cinquenta pesos continuava dobradinha à espera de ser entregue, até que na última noite em Buenos Aires, já a achar que não íamos encontrar ninguém, decidimos que o que tinha que ser tinha muita força. Aqueles pesos não eram nossos, tínhamos de nos decidir.

Fomos jantar a um restaurante muito bonito, num palácio que pertencia ao clube dos franceses. Entrámos e parecia que estávamos noutro tempo e noutro lugar, a viver um daqueles ambientes vagamente coloniais, vagamente Hemingway, com bar de cocktails e cadeirões de cana num pátio interior.

A sala de jantar tinha uma lareira grande onde pousavam as garrafas de vinho; a ementa do dia era declamada pelo cozinheiro. O jantar foi uma delícia, claro está, e o ambiente completado com um piano tocado ao vivo, numa sala ao lado, por um pianista que não recebeu uma única palma durante toda a noite.

No fim do serão, o músico veio às mesas recolher as suas gratificações: já tínhamos decidido que era aquela a pessoa que ia receber os cinquenta pesos. O pianista recebeu a nota, teve um momento de hesitação e espanto, depois olhou-nos emocionado. Não era preciso, não era preciso…

Ele não sabia, mas naquela noite calhou-lhe a ele receber o agradecimento que devemos a tantos pianistas de tantos lugares de passagem e que nunca recebem um olhar sequer de reconhecimento.

O senhor de hoje, surpreendido com as palmas, veio-me perguntar se gostava de música. Sim, gosto, e ainda mais tocada ao vivo.

Esqueci-me!

Ontem esqueci-me completamente de assinalar o dia em que festejei os quatro anos de vida na América Latina, três deles em Buenos Aires e quase a celebrar o primeiro aniversário de vida panamenha.

Quatro? Já?!

Entre o Panamá e Buenos Aires

Floralis Generica, Buenos Aires

Seis meses depois da partida, voltei a Buenos Aires para cinco dias de jacarandás em flor, muitos passeios a pé e muitos, muitos mimos das amizades que fiz nos meus anos por lá. Não visitei nenhum museu (e olá se tenho um déficit de cultura) nem conheci lugares novos, mas revi os meus preferidos (como a flor, acima) e, sobretudo, sentei-me à sombra lilás que agora inunda a cidade. Novembro é o meu mês preferido em Buenos Aires, e tive a sorte de lá poder ir.

Passei pela minha antiga rua e falei com a minha querida porteira – e amiga; visitei o ginásio e falei com as companheiras de sofrimento na aula de pilates. Revi tricotadeiras e partilhei chazinho e bolo; visitei a minha antiga aula de pintura, cheguei no intervalo e daí passámos ao chá, do primeiro chá ao segundo, e do segundo ao jantar.

Visiting my former painting class

Notei a louca inflação, que duplicou preços entre Maio e Novembro; vi as mudanças na demografia da noite, alguns restaurantes fechados e muito menos gente nos restaurantes da moda. Jantar fora está muito caro.

Iglesia del Pilar, Buenos Aires

Adorei não ter calor de noite nem sentir humidade no ar. E sobretudo – ou apesar de tudo – adorei a sensação de voltar a casa, uma casa que já foi minha, já não é minha, mas sempre estará no meu coração.

Nos vemos!

Buenos Aires bye bye (16)

16_BsAs bye bye

Buenos Aires bye bye (15)

15_BsAs bye bye

Confesso aqui que não sou particular fã de futebol. Não sou. Gosto de acompanhar os jogos da selecção e, obviamente, fiquei muito contente com a vitória do nosso Benfica no campeonato nacional. E por aí fica o meu entusiasmo futebolístico.

Agora, convenhamos, não há melhor disparador de conversa que a simples menção de um clube de futebol, seja ele qual for. Explico: se há coisa de que gosto (e desconfio que herdei isso do meu pai) é de uma bela converseta com taxistas. Não há nada antropologicamente mais divertido que isso, tenho para mim, apesar de conhecer muita gente que não imagina tortura pior que a de ter de ir a falar enquanto não chega ao destino. Eu gosto, e muito.

Da próxima vez que entrarem num táxi proponho que olhem para o galhardete pendurado no retrovisor. E depois experimentem dizer o nome do clube.

(Num parêntesis, aproveito para revelar as minhas estratégias. Recorro principalmente a duas variantes: “então e o nosso Benfica, hã?” e a “como é que ficou o jogo do Boca?”. Quem diz Boca, diz Sporting, Porto, Belenenses, Independientes ou River. Não importa. Fecho parêntesis e sigo para bingo.)

E assim, estratégia infalível, têm conversa garantida até ao final da viagem.

Buenos Aires bye bye (14)

14_BsAs bye bye

Cidade de cultura, em Buenos Aires há sempre qualquer coisa a acontecer: entre teatros, cinemas, museus, galerias de arte, centros culturais e espectáculos de rua, não há dia que passe sem actividades. A dificuldade, de facto, está na escolha.

Por isso, um dos nossos passatempos favoritos de fim-de-semana era ir ver o que havia lá perto de casa. Íamos ao Centro Cultural da Recoleta ou ao Museu de Belas Artes, ao Palais de Glace ou a alguma galeria, e havia sempre, mas sempre, qualquer coisa interessante para ver.

Uma das modalidades que a mim mais me impressionou foi a dos espectáculos de rua “a la gorra”, ou seja, em que no final da apresentação é passado um chapéu para que as pessoas depositem a contribuição que entendam corresponder à qualidade do espectáculo. E não é que as pessoas colaboram, ainda por cima sem avareza?

Buenos Aires bye bye (13)

13_BsAs bye bye

Novembro é o mês dos jacarandás em flor. É também o meu mês preferido para estar em Buenos Aires: não só há uma histérica nuvem lilás por toda a cidade, há também um ambiente de alegria pela chegada do bom tempo, do fim do ano, da proximidade das festas a marcarem o início do Verão e das férias.

É verdade que as ruas ficam um bocadinho pegajosas com as flores que caem, mas tudo vale a pena só para termos aquele espectáculo durante um par de semanas.

Buenos Aires bye bye (12)

12_BsAs bye bye

Algumas esquinas de Buenos Aires emanam uma aura de charme decadente. Talvez seja pela grandiloquência desta arquitectura estilo parisiense, aparentemente fora de lugar, mas tão bonita, neste ponto da América Latina. Esta é uma cidade cheia de encantos, e os edifícios que resistiram à construção dos arranha-céus são disso testemunho.

O centro, contudo, está degradado. Seja pela poluição que aí se faz sentir, seja porque agora já não é o lugar da moda para se ver e ser visto, na Calle Florida há um certo charme decadente no ar. Os antigos armazéns Harrod´s, hoje vazios, são disso exemplo.

Buenos Aires bye bye (11)

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Um dos meus espaços predilectos em Buenos Aires, a flor é… a flor. É uma flor de metal, artificial, portanto, que mimetiza a natureza ao abrir e fechar conforme a intensidade da luz: à noite fecha-se, durante o dia está aberta. Curiosamente é também um pouso habitual para aves, o que faz com que quase todas as fotografias que tirei tenham um passarinho empoleirado numa das pétalas.

Mesmo ao lado passa uma avenida muito circulada, a Figueiroa Alcorta. Mas neste parque não se sente nada do movimento louco da estrada: há calma, espaço, verde, alguma sombra e a imponência da flor no seu espelho de água. Quando me treinei para correr os 10km, frequentava muito este jardim porque podia fazer um caminho bonito com algumas subidas e descidas, com uma gravilha macia ao impacto de cada passo e, sobretudo, sem cheiro a cocó de cão. Na Primavera, levávamos uma mantinha e o jornal do dia e íamos para lá apanhar um bocadinho de sol. Enfim, a flor é um espaço de muitas e boas memórias porteñas e continua a ser a imagem de fundo do meu computador. Vou ter saudades!

Buenos Aires bye bye?

Podia ser um post da série “Buenos Aires bye bye”, mas não é.

Na semana passada, a nossa última na Argentina, ficámos instalados num hotel de executivos, bem no centro. É um hotel de uma cadeia internacional, onde maioritariamente se instalam homens de negócios, tripulações de cabina em trânsito pela cidade, enfim, estão a ver o género. Não é propriamente o vão de escada ali do prédio dos fundos.

Ora precisamente neste hotel, fui interceptada duas vezes pelos seguranças para saber se era “acompanhante”.

Acontece que o Sheraton Retiro, pelos vistos, é frequentemente visitado por profissionais desta área de negócio, também conhecidas como prostitutas de luxo. E aparentemente – uma pessoa está sempre a aprender – os seguranças cobram uma comissão nas tarifas das ditas profissionais para as deixarem subir aos quartos dos ditos executivos. E quem era eu para entrar por ali adentro sem pagar o que lhes era devido?

No final da estadia fui fazer a devida reclamação na recepção. Preambulei avisando que era um assunto delicado, mas nem mesmo assim consegui evitar que a recepcionista emudecesse de vergonha, acompanhado do inevitável rubor facial. “Representando el hotel, pero sobre todo como mujer, le pido mil disculpas. Hablaré con los chicos de seguridad.”

E esta, hein?

Buenos Aires bye bye (9)

09_BsAs bye bye

Uma das (minhas) descobertas porteñas foi a pintura. Comecei a frequentar as aulas de pintura da Asociación de Amigos del Museo de Bellas Artes, com modelo vivo, e a minha vida foi mudando, aos poucos.

Penso que a minha profissão, a de designer de comunicação, é muito desgastante em termos criativos. A páginas tantas, no meio do turbilhão dos trabalhos, há pouco tempo para testar, experimentar novas soluções para resolver os problemas (de comunicação) propostos pelos clientes. E isso acaba por, paulatinamente, opacificar a nossa estrelinha brilhante, aquela a que podemos chamar de criatividade.

A pintura, portanto, apareceu-me como um terreno de teste, onde tudo, mas tudo mesmo era permitido. Em cada exercício que fiz predispus-me para o erro, para o teste, para tentar uma coisa diferente – tudo experiências que no trabalho como designer, a maior parte das vezes, não tenho tempo para fazer.

O tricot e as lãs também foram, curiosamente, uma forma de teste criativo e, paralelamente, de integração na cidade. Através do ravelry, comunidade tricotadeira virtual (e mundial), encontrei pessoas muito diferentes com uma coisa em comum: o gosto pelo tilintar das agulhas.

Uma coisa levou a outra e hoje tenho uma marca de roupa para pequenitos tricotada à mão, a abbrigate*. Como a necessidade aguça o engenho, um dia destes tive de arregaçar mangas e tingir lãs. Com a ajuda de um catálogo escolhi cores e fios e fui comprar as anilinas, só que, quando cheguei a casa e deitei mãos à obra, descobri que também nas lãs havia repetido o meu universo cromático da pintura, fugindo um pouco das cores que inicialmente tinha previsto obter!

Parece-me que a conclusão a retirar é que não podemos mesmo fugir à nossa natureza.

Nota: quem tiver vontade de ver o que andei a pintar durante estes dois anos, clique aqui e comente abaixo!